Wednesday, December 29, 2004

Pêndulo

Felicidade, sofrimento
Pleno, vazio
Povoamento, êxodo
Hei de encontrar o equilíbrio?

Lembranças boas, resquícios absurdos
Uma noite interminável, anos de solidão
Tapa na cara, pele intocada
De que vale a certeza se não pudermos aproveitá-la?

Como num pêndulo, estagnação conformada
Sem sofrimento, mas também sem aprendizado, conformismo
Bela manhã acordada com seu amor, tarde de chuva num domingo cheia de expectativas
Um chá para dormir a insônia, cheiro delicioso de café-da-manhã
Não dá pra ser feliz sem experimentações, sem altos e baixos
Que de extremos a felicidade se completa e no equilíbrio a paixão se esvai

Frio no estômago, gelo na barriga, choro pela falta, lágrima sofrida
Empolgação e entrega, realização seguida de decepção
Luz da lua que ilumina duas vontades, sol que cega o coração endurecido
Silêncio doído, cair de maduro, música que embala dois corpos e uma alma
Como dá prazer viver ao máximo, ainda que soframos e nos suicidemos!
Então por quê escolher o medíocre, o ameno, o pequeno?

E nesse pêndulo de emoções engordamos a nossa conta no Aprendizado!

Juliano Hollivier

Tuesday, December 28, 2004

Mágica

Como num lance mágico passei do vazio ao pleno; da dúvida sobre minha capacidade de amar à certeza da minha capacidade de entrega; do superficial e momentâneo medo de tentar à coragem, sempre presente em mim porém às vezes ofuscada pelos cascalhos.

Como num lance mágico passei do estado de decepção em que me encontrava à admiração por uma pessoa em apenas algumas horas de conversa; lembranças ruins de alguém que em nada se identificava comigo davam lugar a momentos vividos com uma pessoa que em tudo havia sintonia; da vontade imensa de encontrar alguém para dividir preferências, filmes, músicas, espetáculos, conteúdos, tesão, à consumação do fato em si.

Como num passe de mágica arranco minha armadura com muita coragem diante de alguém que visivelmente valeria a pena; deixo de lado minha frágil decisão de "não me envolver" e passo a curtir risos, horas intermináveis de conversa, músicas, filmes, tesão, o que não poderia ser chamado de qualquer outra coisa que não fosse envolvimento, delicioso ENVOLVIMENTO!

E como num outro passe de mágica, a quebra, o corte, a cisão de toda a sensação boa. A mostra do final que fora avisado com clareza, sim, de antemão, de que tudo era tão somente mágica, porém não tão sem dor. E nesse embalo de lances e passes de mágica, resta novamente a sensação de despovoamento, de êxodo, de sentimento que se exala, de solidão misturada à rejeição. Assim, em se tratando de um espetáculo da vida, resta-me Aprender, pois quero ficar com alguém que queira ficar comigo, sem medos e com muita coragem, como a minha, capaz de assumir o sentimento se existir.

Agora . . . há algo importante a dizer sobre esta 'Mágica', especificamente: extremamente bela, singular e aparentemente nunca vista, é uma mágica transparente, clara (não em côr) e honesta, porém que envolve e cativa o expectador por sua beleza. O que tem de simples tem de bela, rara. Como é linda essa mágica, que atrai a todos que a vêem, inicialmente pela beleza aparente e sucessivamente pelo conteúdo, tão perfeito quanto. Porém é tão somente uma mágica, manipulada por um intermediador chamado Vida, que se utilizou de sua perfeita criação para alimentar meu olho sedento.

Poderia ser como o movimento contínuo de nuvens, que levadas pelo vento e iluminadas pela lua, nunca têm um fim certo. . . Sim, poderia ser assim como o clarão de uma certa lua que iluminou o caminhar de nuvens em sintonia com outra certa música, só que infelizmente ou, pensando longe, felizmente, tudo não passara de uma mágica manipulada pela vida afim de provar-me mais uma vez que vale a pena viver rumo à felicidade.

Juh

EXPECTAR

"Um vazio tranquilo
se fazia vencedor
em mim como se quisesse compor
algo por sobre minha dor
que se transformara naquilo
que há de ser um dia crescimento!

Preenchimento não tão sereno
sobrepõe o vão ameno
que se encontrava disposto, talvez,
a ser permeado por gosto, e lento,
diante de uma bela possibilidade
que a vida me intercala em viéz.

Expectar, criar, ceder.
Imaturo seria não se permitir esperar
que de tranquilo o vazio não se compõe
e de ameno e sereno não se prova crescer.
Conhecer, divertir, deliciar.
Se encantar!

Madeira rara, e cara,
Egípcio, ou grego onírico
Assim é bela minha possibilidade
que se intercala no viéz de rara
com-pa-ti-bi-li-da-de!

Não há como não ceder, criar, expectar...
diante de um vazio sobreposto por um imenso gosto
de ebano dado, enviado, como presente belo.

Conhecer, criar, esperar....
Gerar e decepcionar, ser decepcionado.
Ameno e leve, o vazio que antes reinava?
Não, intenso e fundo porém disfarçado!

Então, como que num vértice de emoção
o preencher cede espaço ao expurgo,
ameno, sereno e lento, mas turvo, que
de belo, raro e caro o que reina é a sensação de
in-ca-pa-ci-da-de!

O mesmo vazio tranquilo
se conforma com a constatação
da minha falta de preparo, ainda,
em ouvir um não!"

Juliano Hollivier

Tuesday, December 07, 2004

O recado que espantou . . .

Algo a adiantar sobre mim é que sou uma pessoa que vive de uma forma muito intensa meus sentimentos, com amigos, familiares e principalmente meus romances. Sem julgar isso como qualidade ou defeito, trata-se de uma característica da minha personalidade, e mesmo sofrendo com algumas consequências, acredito que é dessa intensidade que tiramos o maior proveito de tudo, creio que é só com ela que aprendemos algo. Não sei ser superficial, não sei levar minha vida e meus amores à "flôr do teclado", não consigo esperar que me mandem uma mensagem, ou que me enviem um botão de rosa, sabe, não sei não criar expectativas boas sobre alguém, ou deixar que me liguem pra marcar um encontro. Não me sinto bem na sala de espera, compreende? sinto necessidade de entrar, entrar fundo em alguma coisa, em alguém. Quero sim eu enviar a flôr e receber um telefonema de "Muito obrigado", ou esperar avidamente por um convite de alguém pra fazer coisa alguma juntos. Quero sim enviar cartas dizendo que amei a noite e os beijos que passamos e demos e aguardar sim um "Vamos repetir?"... Não consigo aceitar que é cedo pra viver uma super felicidade, ou que a entrega a uma paixão deve ser inversamente proporcional ao tempo discorrido desde o 1º encontro....o que é o Tempo senão o espaço físico onde podemos pôr em prática nossos sonhos? pq fazer dele uma referência sã, como que para nunca esquecermos de que podemos estar fugindo dessa "sanidade", ou fazer dele um espelho para mostrar o quanto estamos sendo loucos....NÃO! Esta é a minha forma vertical de viver as emoções, meus sentimentos....seja subindo ou caindo quero experimentar tudo, quero ser feliz, quero sofrer, quero tudo aquilo que depende de mim conseguir!

Juliano Hollivier

Monday, October 18, 2004

Testemunho sobre um Amigo Especial

Apesar do "Mar Morto" parecer nos distanciar, e não falo aqui do íngreme metro linear considerando que moramos em bairros diferentes da mesma cidade, considero este rapaz (vulgo gatochorro = nome a princípio sem sentido que um dia inventamos) um Amigo Especial. Passamos tempos e fases em comum, expectativas e lutas típicas dos que buscam a felicidade através dos valores passados pela família e também pelos adquiridos pela própria experiência. Muita alegria e alguns 'dissabores' compuseram nossa amizade, que por intermitentes interrupções naturais, ou melhor dizendo, correrias do dia-a-dia, desencontros, tempo escasso, cansaço, diferentes escolhas, enfim, creio estar adormecida, porém tão sensível a qualquer som para despertar, como sempre foi. Já ficamos tempos sem nos falarmos e em determinados momentos especiais um simples telefonema parecia estreitar anos de distância, acredito isso não ter mudado. Muitas reflexões sobre a existência humana, sobre a busca de nossos objetivos, regados a vinhos preferencialmente brancos-demi seco muito gelados; descobertas e incursões musicais, de Rachmaninnoff a Iron Maiden, passando por algumas horas de Toquinho num violão e duas vozes...alguns momentos de sofrimento motivados pela falta de um ex-amor meu, cuja falta foi suprida pela sua tão especial companhia....lembro-me de uma música que fiz pra uma garota, a mesma, e pedi que ele, este Amigo tão especial, cantasse pra ela, pois essa é mais uma de suas qualidades: uma bela voz. Espero crer sempre na amizade que marcou nossos corações, como quando corríamos a praça feito crianças crescidas, numa brincadeira de "Duro-Mole" ou "Mamãe-da-rua", em plena madrugada numa certa "Concha Acústica", nós e mais outros queridos amigos, todos crianças crescidas. Espero crer sempre que esta sensação infantil, tão desprovida de obrigações adultas e outros sentimentos decorrentes da fase séria da vida em que nos encontramos hoje, nunca se apague de nossas lembranças, pois ela é maravilhosa. A você, grande Amigo especial, que hoje dorme um sono que nos distancia, escrevo-te o testemunho da admiração. Após alguns anos de muita música, de estudo, muito trabalho, obstáculos vencidos, conquistas, tenho pensado e sentido sua falta, queria muito poder dividir contigo minhas não tão mais novas alegrias e tristezas, meus não tão mais novos ideais, meus novos trabalhos e objetivos, meus velhos livros. Tenho feito muita coisa que tenho certeza adoraria acompanhar, apreciar e opinar; tenho criado muitas coisas que adoraria saber sua opnião, escrito textos e cenas teatrais, encenado papéis e vivido personagens, escutado muita música nova e bela, ah! voltei até a pintar (pra decorar minha nova casa), aos poucos estou conseguindo tudo aquilo que almejávamos naquelas noites, regadas a muito vinho, (ria-se) preferencialmente brancos-demi seco e muito, mas muito gelados! Queria muito dividir contigo os frutos de uma colheita que ajudastes tão belamente a semear: Registro aqui meu testemunho de admiração pelo que fomos outrora e pelo que podemos ser adiante: grandes amigos! Um forte abraço e até dia desses...

Juh

Tuesday, June 29, 2004

Esboço

Queridos amigos.

É com imensa satisfação que coloco aqui o esboço de meu 2º texto teatral*. A idéia é levantar opniões, sugestões e críticas, positivas ou não, claro! Portanto, àqueles que tiverem interesse, por favor, leiam, mergulhem, e depois comentem.
Inicialmente é uma proposta de um teatro experimental e investigativo. Escrevi pensando em um ponto de partida para o estudo da interpretação, expressão corporal-vocal, do movimento psico-imaginativo, enfim, para o estudo de todas as formas de expressão artística.
Muito longe de uma pretensão profissional, no real sentido da palavra, trata-se de uma linha a ser acompanhada no decorrer da investigação teatral; um início, sem maiores pretensões, onde é permitido e necessária toda e qualquer mudança que se faça jus.
Forma-se com este objetivo um grupo de artistas, atores ou não, que têm como meta principal a busca do "fazer artístico", dividindo e aprendendo com o outro! Segue então abaixo com o título "Manicômio ou Cárcere?". Boa leitura...

*O primeiro fiz com 14 anos, e é um tanto quanto 'ruim'... quem sabe uma revisão daqui há alguns anos melhore!

Monday, June 28, 2004

...para desfrutarmos!

"Sim, prefiro o risco do manicômio ao risco do cárcere. Prefiro acreditar demais - sem fanatismo ou intolerância - a ter pouca fé. Se tenho que errar, quero errar achando que esta é uma grande vida, misteriosa, complicada, maravilhosa e não cair no erro oposto de vê-la menor e mais simples do que a minha imaginação." (J.Priestley - O Homem e o Tempo)

Wednesday, May 05, 2004

Broches ou Peitos? reflexões pós Stocklos

Frase ouvida no espetáculo "Olhos Recém Nascidos" - de Denise Stocklos:

" (. . .) O broche no lixo e o peito no palco!"


um pouco mais fundo:

O broche
Pode ser o medo q as pessoas têm de encarar a realidade, de partir pra luta e se ferir, de mudar algo ruim que muitas vezes nem percebe em suas vidas. O broche pode representar a máscara que vestimos pra esconder nossa feiura, nossa incapacidade, nosso "conformismo" (olha ele aí de novo), esse broche enfeita, tira a atenção, esconde o que tem por trás, ilude, envaidece. É a mídia, as peças de teatro-comerciais e ruins, os programas de televisão péssimos, é o Faustão, o Gugu, aquele lixo escrotal e pegajoso "Pânico na T.V." que fazem sucesso em cima da idiotisse alheia, e o que é pior, premeditadamente ruim (foi criado para ser ruim, as pessoas sabem disso e assistem, se divertem, riem das ignorâncias alheias); são as novelas ruins, as músicas pré-moldadas, "Lacraia", "Segura o Tcham", quase todos esses grupos de Axé, de Pagode e de todo tipo de música e dança que só alimentam a pobreza cultural e espiritual. O broche são todos os "Big Brothers" da Rede Globo (e do mundo), todas as "Casa dos Artistas", é o "Fama", é o Silvio Santos, são os políticos e seus programas políticos, que nos chamam todos os dias às vésperas das eleições de OTÁRIOS, IDIOTAS E BURROS e as pessoas nem percebem. O broche são todos os preconceitos que escondem e justificam a incapacidade que o ser-humano tem de viver em sociedade (hilário isso).
O broche pode ser um chapéu de madame, pode ser uma calça de marca, dois peitos grandes DE SILICONE, uma lipo, aplicações de lipostabil (que nunca funcionam e todos sabem disso, mas fazem), pode ser a 'echarpe' que esconde a chupada adúltera, pode ser o boné que esconde a calvície. O broche é o cárcere do cabelo liso, da Escova diária, o broche são os produtos de alisamento, chapinha, "bobe-lise", todos os métodos de alisamento, japoneses, franceses, ingleses, BRASILEIROS.....(gente como pode??? parem e pensem......e japonês lá precisa fazer alisamento??? como é que sabem como fazê-lo a ponto de inventarem um método de alisamento....PUTA QUE O PARIU), o broche é o próprio cabelo liso (muitos rss.....), e as mulheres nem percebem isso, se encarceram dentro de uma moda ditada por pessoas que querem igualar as pessoas, tirar a individualidade de cada um, monopolizar os ganhos de um empobrecimento em massa. Imaginem só: todas as mulheres do mundo de cabelo liso e pintados de loiro (me desculpe as loiras naturais).... para a burrice e ignorância é só um passo!

O peito
Puta, o peito é sim a coragem, a coragem no palco, a cara pra bater, a nudez proposital, não só pra causar o tesão gratúito, mas sim pra enxergarmos como viemos ao mundo: livres de adereços, de uniformes, de preconceitos, nus. O peito é individualidade que respeita a outra individualidade, é a diversidade que compõe o mundo, é a aceitação consciente das diferenças. O peito é a arte, e a arte é o que está no palco com a intenção de elevar as idiossincrasias do homem, palco da vida livre de regras ditadas sem sentido, massificadoras. Esse peito é o mesmo que uma mãe se jogando em frente ao filho para levar por ele um tiro qualquer; é o ex-alcoolatra, é o ex-drogado, é o ex-desempregado. É também o gay assumido, os pais falando orgulhosos da filha que vai casar, com outra mulher!; é o cara que 'pede as contas' do emprego, que luta pela real igualdade de direitos, por melhores salários, por melhores condições de vida. É o grupo de teatro que questiona a moral inquestionada da sociedade, que mostra cenas de sexo dentro de uma Igreja, que cospe na cara de um ditador qqr, que mostra a pedofilia, a prostituição, a pobreza, os massacres, os cânceres sociais. O peito é aquele que vai contra suas formas já intrínsicas e arraigadas e tenta mudar pra melhor, deixa de usar suas linguagens costumeiras para dizer de forma diferente algo que lhe seja importante, e não só pelo simples motivo de ser diferente, mas sim pelo fato de que experimentando novas linguagens estará aprendendo também, e talvez atingindo mais pessoas. Peito no palco é viver enfrentando nossos medos, nem sempre vencendo-os claro, mas sempre tentando a vitória sobre eles. Peito no palco é ter a coragem de ir à uma terapia, se enxergar como num espelho, e descobrir o quão somos pequenos, feios, mas tbem descobrir que isso tudo é só uma questão de iniciativa, a iniciativa de MUDAR, é descobrirmos que somos somente nós que podemos mudar a nós mesmos. Peito no palco é foder de verdade no espaço cênico, com ou sem viagra, gozar e sair de cena com o não-único intúito de chocar, mas sim de causar reflexões na platéia, pra que saiam dali ao menos se perguntando: "Precisava daquilo?", ou "Será que não é isso o que fazemos com nossas vidas?". Esse peito é o mesmo peito da atriz do Teatro da Vertigem, que mostra os próprios seios numa personagem bíblica; é própria Denise Stocklos em cena, que separada de sua costumeira linguagem corporal, tenta com maravilhoso sucesso, manifestar suas reflexões de artista. É o mesmo peito de um músico que sobe o morro de uma favela pra tentar através da música humanizar aqueles "reféns do broche" e qdo volta da favela vê que somos todos "reféns do broche", mas mesmo assim não desiste! É também o peito de alguém que tenta na justiça seu direito de se casar com alguém do mesmo sexo, ou daquele que tenta promulgar leis que condenam o preconceito homossexual, ou leis que apoiem as uniões do mesmo tipo. O mesmo peito de um heterossexual que tem amigos viados e se orgulha deles. O mesmo peito de uma empresa que contrata negros e paga-os salários iguais ou melhores que os que pagam aos brancos. É o próprio "Madame Satã"! Esse peito no palco é a vida mostrada como ela é, sem julgamentos e repleto de admiração e res-PEITO!

E aí, vamos ser "broches" ou "peitos"???

Juliano Hollivier