Wednesday, September 30, 2009

Subterfugium

Excluimos os loucos por serem loucos
assim como ignoramos o outro quando a diferença incomoda.
A indiferença também é arma,
tão potente quanto uma palavra mal dita,
um soco inglês ou um vírus fabricado no erro.

É mais fácil conviver com o que fingimos não ver ou saber,
pois se há algo que nos é eterno e revelador é o conhecimento.
E mais fácil é a maneira como queremos viver,
ainda que para isso tenhamos que ignorar.

A agnosia é aqui um subterfúgio,
desvio muitas vezes inconsciente que nos deixamos escolher.
Enxergar a demência do outro é olhar para si próprio,
e essa é uma prática que exige coragem, entrega e espiritualidade.

Tenho um louco na família,
um vesano que desveste nosso lado ruim, despreparado.
E nunca realmente o enxerguei direito pois tinha outros afazeres,
alguém talvez sano para entender e aceitar.

Hoje já tendo passado essa também dificuldade,
movido pelos surtos meus, seus e de todos,
lembro-me que não o enxerguei como deveria,
e isso me mantém na medíocre linha da superficialidade humana.

Mas o que posso eu fazer, Deus, diante dessa deterioração?
Uma deficiência que pode manter alguém em seu mundo
me fazendo ver que sou e que somos imperfeitos.
Será essa a razão da insanidade? Predestinação!

Como não sofrer com esse esquecimento
se também sou esquecido, excluído como todos sempre são em algum momento?
Como não fingir desconhecer se acabo de me justificar na imperfeição?
Será necessária então a aceitação e uma tentativa de humanidade.

Então por menor que seja a ação pego-me à Arte
para fazer menor meu erro e maior minha bênção.
Escreverei e atuarei na loucura para fazer a minha parte,
mostrando aos outros o quão loucos estão.

A exclusão do desigual, do diferente, do incômodo
será eterna se não mexermos com as mãos e revirarmos a merda
defecada por nós mesmos numa sociedade imperfeita.
Portanto, o surto aqui torna-se desvio para evolução.

Não terá você ignorado alguém hoje?
Ou cuspido na insanidade alheia?
Não terá sido você hoje indiferente ao muçulmano, ao negro, ao traveco ou ao drogado?
"Dado de ombros" ao mendigo, ao oriental, à puta ou mesmo ao desconhecido viado?

Pensar é preciso e falar consequente.
Que o odor destas questões aproxime mais nossas relações,
para que possamos caminhar para o outro lado mais amenos,
mais completos, verdadeiros e mais cheios de virtudes.

Digo não à exclusão!


Juliano Hollivier - São Paulo