Friday, June 18, 2010

Solitaria

É duro ter que se deparar com a realidade,
que geralmente soca a cabeça às sextas-feiras,
talvez por que seja um dia em que todos
estão juntos ou separados ao mesmo tempo
e quando chega a noite, aquela vontade de partilhar surge
debruçando em nós todas as vontades que não realizamos
todos os caralhos de coisas que não temos mas queremos
e então escorre no dorso o filete quente da incoerência
do que os outros fazem com o que quero para mim
do que os outros querem pra si com o que faço enfim.
Simples seria não querer
fácil provavelmente é simplesmente não sentir
uma companhia na cama e na mesa
de jantar, de bar,
na sacada, na sala.
O papo que não acontece ou a briga que sequer grita
em contrapartida à conversa sobre estética da arte
depois de uma gozada maravilhosamente quente
no quarto que meticulosamente fica
repleto de sabor, de amor, de uma névoa de calor
traduzida no suor das costas, da coxa, do peito
resumida porém não diminuída
no olhar de gato egípcio, delineado por um "S"
puxado num rosto belo e perfeito.
E esse molhado que cheira forte
fica agora lá, na cama desarrumada de dias atrás
mostrando que nexta sexta-feira de hoje
é real estar sozinho
sem ninguém
com meu notebook,
meu cão amigo e meus paradoxos,
minhas frases mal escritas
e minhas vontades malditas.

Juliano Hollivier - São Paulo