Wednesday, May 05, 2004

Broches ou Peitos? reflexões pós Stocklos

Frase ouvida no espetáculo "Olhos Recém Nascidos" - de Denise Stocklos:

" (. . .) O broche no lixo e o peito no palco!"


um pouco mais fundo:

O broche
Pode ser o medo q as pessoas têm de encarar a realidade, de partir pra luta e se ferir, de mudar algo ruim que muitas vezes nem percebe em suas vidas. O broche pode representar a máscara que vestimos pra esconder nossa feiura, nossa incapacidade, nosso "conformismo" (olha ele aí de novo), esse broche enfeita, tira a atenção, esconde o que tem por trás, ilude, envaidece. É a mídia, as peças de teatro-comerciais e ruins, os programas de televisão péssimos, é o Faustão, o Gugu, aquele lixo escrotal e pegajoso "Pânico na T.V." que fazem sucesso em cima da idiotisse alheia, e o que é pior, premeditadamente ruim (foi criado para ser ruim, as pessoas sabem disso e assistem, se divertem, riem das ignorâncias alheias); são as novelas ruins, as músicas pré-moldadas, "Lacraia", "Segura o Tcham", quase todos esses grupos de Axé, de Pagode e de todo tipo de música e dança que só alimentam a pobreza cultural e espiritual. O broche são todos os "Big Brothers" da Rede Globo (e do mundo), todas as "Casa dos Artistas", é o "Fama", é o Silvio Santos, são os políticos e seus programas políticos, que nos chamam todos os dias às vésperas das eleições de OTÁRIOS, IDIOTAS E BURROS e as pessoas nem percebem. O broche são todos os preconceitos que escondem e justificam a incapacidade que o ser-humano tem de viver em sociedade (hilário isso).
O broche pode ser um chapéu de madame, pode ser uma calça de marca, dois peitos grandes DE SILICONE, uma lipo, aplicações de lipostabil (que nunca funcionam e todos sabem disso, mas fazem), pode ser a 'echarpe' que esconde a chupada adúltera, pode ser o boné que esconde a calvície. O broche é o cárcere do cabelo liso, da Escova diária, o broche são os produtos de alisamento, chapinha, "bobe-lise", todos os métodos de alisamento, japoneses, franceses, ingleses, BRASILEIROS.....(gente como pode??? parem e pensem......e japonês lá precisa fazer alisamento??? como é que sabem como fazê-lo a ponto de inventarem um método de alisamento....PUTA QUE O PARIU), o broche é o próprio cabelo liso (muitos rss.....), e as mulheres nem percebem isso, se encarceram dentro de uma moda ditada por pessoas que querem igualar as pessoas, tirar a individualidade de cada um, monopolizar os ganhos de um empobrecimento em massa. Imaginem só: todas as mulheres do mundo de cabelo liso e pintados de loiro (me desculpe as loiras naturais).... para a burrice e ignorância é só um passo!

O peito
Puta, o peito é sim a coragem, a coragem no palco, a cara pra bater, a nudez proposital, não só pra causar o tesão gratúito, mas sim pra enxergarmos como viemos ao mundo: livres de adereços, de uniformes, de preconceitos, nus. O peito é individualidade que respeita a outra individualidade, é a diversidade que compõe o mundo, é a aceitação consciente das diferenças. O peito é a arte, e a arte é o que está no palco com a intenção de elevar as idiossincrasias do homem, palco da vida livre de regras ditadas sem sentido, massificadoras. Esse peito é o mesmo que uma mãe se jogando em frente ao filho para levar por ele um tiro qualquer; é o ex-alcoolatra, é o ex-drogado, é o ex-desempregado. É também o gay assumido, os pais falando orgulhosos da filha que vai casar, com outra mulher!; é o cara que 'pede as contas' do emprego, que luta pela real igualdade de direitos, por melhores salários, por melhores condições de vida. É o grupo de teatro que questiona a moral inquestionada da sociedade, que mostra cenas de sexo dentro de uma Igreja, que cospe na cara de um ditador qqr, que mostra a pedofilia, a prostituição, a pobreza, os massacres, os cânceres sociais. O peito é aquele que vai contra suas formas já intrínsicas e arraigadas e tenta mudar pra melhor, deixa de usar suas linguagens costumeiras para dizer de forma diferente algo que lhe seja importante, e não só pelo simples motivo de ser diferente, mas sim pelo fato de que experimentando novas linguagens estará aprendendo também, e talvez atingindo mais pessoas. Peito no palco é viver enfrentando nossos medos, nem sempre vencendo-os claro, mas sempre tentando a vitória sobre eles. Peito no palco é ter a coragem de ir à uma terapia, se enxergar como num espelho, e descobrir o quão somos pequenos, feios, mas tbem descobrir que isso tudo é só uma questão de iniciativa, a iniciativa de MUDAR, é descobrirmos que somos somente nós que podemos mudar a nós mesmos. Peito no palco é foder de verdade no espaço cênico, com ou sem viagra, gozar e sair de cena com o não-único intúito de chocar, mas sim de causar reflexões na platéia, pra que saiam dali ao menos se perguntando: "Precisava daquilo?", ou "Será que não é isso o que fazemos com nossas vidas?". Esse peito é o mesmo peito da atriz do Teatro da Vertigem, que mostra os próprios seios numa personagem bíblica; é própria Denise Stocklos em cena, que separada de sua costumeira linguagem corporal, tenta com maravilhoso sucesso, manifestar suas reflexões de artista. É o mesmo peito de um músico que sobe o morro de uma favela pra tentar através da música humanizar aqueles "reféns do broche" e qdo volta da favela vê que somos todos "reféns do broche", mas mesmo assim não desiste! É também o peito de alguém que tenta na justiça seu direito de se casar com alguém do mesmo sexo, ou daquele que tenta promulgar leis que condenam o preconceito homossexual, ou leis que apoiem as uniões do mesmo tipo. O mesmo peito de um heterossexual que tem amigos viados e se orgulha deles. O mesmo peito de uma empresa que contrata negros e paga-os salários iguais ou melhores que os que pagam aos brancos. É o próprio "Madame Satã"! Esse peito no palco é a vida mostrada como ela é, sem julgamentos e repleto de admiração e res-PEITO!

E aí, vamos ser "broches" ou "peitos"???

Juliano Hollivier