Mudar o quê? Mudar pra quê?
A inocência que
encanta, desabrocha o riso,
ilumina novos rumos a tomar, inspira novas trocas fazer.
Inesperado momento reflete renascimentos de vontades,
desejos, sonhos e possibilidades.
Como numa revoada quando as folhas bebem o céu e as flores
beijam o sol,
papéis mostram ao vento bilhetes rascunhados, mensagens não
ditas,
cartas apaixonadas, rimas da boca e dos pés que o vento leva,
elisões de amor em
voga que o vento toma,
suposições descritas em versos pintados com cheiros, com
beijos sonhados,
desejados, esboçados e refeitos em centenas de papéis que o
céu toma como dele,
e o vento carrega ao léu.
Um olhar correspondido é o que sopra este vento,
que acende o brilho na sombra desenhada,
lambe aromas marcados no corpo branco, quase dourado,
liso e sereno, sedento e perfeito.
Esculpe formas e volumes novos , traços trêmulos e lábios
rosados.
Renova o fogo calmo no peito cansado e renovam, olhar e
brilho, os caminhos trilhados neste corpo jovem de alma bela.
Mudanças geram força, modificam formas,
Renascem almas, cores e amores novos, crianças, puros e delicados.
Neste voo de papéis e folhas, flores e aromas, pássaros se debandeiam, insetos se rogozijam ,
E todo bicho que voa se emudece e ganha o céu.
E no chão restam pés e mãos que desejam, e só desejam ganhar
o céu da tua essência.
Restam olhos que se entrevêem, peles que se querem.
Lábios que se engolem, mesmo que imóveis.
Corações que se entregam num mergulho sem volta.
Neste chão ficam os sorrisos espontâneos , piscadas
involuntárias e fôlegos não controlados.
Ficam resmas de curiosidade, de afago e descobertas.
Ficam tons de volúpias entrecortadas num simples
reconhecimento de desejo mútuo.
Ficam roupas largadas, nele jogados, canson e pincéis que
testemunham o voo do corpo no outro,
Assistem aos beijos selados e devotos, pele a pele, tato a
tato,
Olham caminhares de dedos que percorrem os tons acetinados
Rasgando-os de um vermelho delator,
Abençoando os fluídos e sentimentos trocados, renascidos.
E no céu restam sol, pássaros, flores e papel.
Mudar para se propiciar vivo e humano, amado e repleto.
Mudar para que no outro se encontre novo e se refaça pleno.
Mudar o ponto de vista, a calçada traçada,
As formas acostumadas e usadas, e os padrões aprendidos.
Mudar o corpo e a alma de lugar, e assim metamorfosear-se
por aí.
Transformando-se dentro do outro e nunca mais sentir-se só!
Foto: Eva Bella