Saturday, November 20, 2010

O Gozo Sem Capa


Sexo como droga
que vai pelas narinas dos mais perdidos
como se amortecesse algo latente
e acalmasse o espírito e o corpo.

Inquietação comum essa,
em nós homens gays ou não.
Corrompe qualquer valor,
destrói qualquer juízo,
nos leva ao delírio e ao vazio
direto e em  poucos segundos.

O gozo é facil,
intermináveis são as opções,
se vê paus grandes, pequenos,
se escolhe bucetas ou cús anelados,
como se num sex shop entrássemos
e pedíssemos à atendente virtual
aquilo que nos desse o maior prazer.

Se pode escolher dar ou comer,
onde e como meter,
se pode bater, chupar, machucar, dominar
ou então um, dois, tres ou mais
para matar a vontade de querer ser, ter.

Pula-se de um sexo para outro,
não há envolvimento emocional,
não há troca que não seja de esperma,
de tesão, de doenças, vírus e bactérias,
não há tempo, cobiça, zelo,
troca-se de parceiro assim como
se ignora qualquer sentimento substancial.

Num lugar onde todos somos iguais
o difícil é acusar quem é o culpado
mas o incômodo depois da porra expelida
é mais comum do que o próprio ato acusado.

Há os delírios, os desejos escondidos,
humanos, normalmente calados
como a leitada sem capa, um mijo na cara,
podre, sexual, nojento pra uns
necessário pra outros.

Há muito neste mundo de
sexoanusquímico-dependentes.
E isso nos faz querer saber,
sempre depois da ultima gozada,
quando será a próxima
para não termos que fitar
a nós mesmos na próxima amorosa enrascada,
que normalmente nos faz abrutecer.

Terrível dizer isso mas 
gozar hoje é tão bom quanto matar
medos, desesperos, desconhecidos em nós.
Seguem todos juntos com a borracha lixo abaixo,
isso quando as usa.

Não há doenças que amedrontem,
não há gravidez indesejada que impeça,
não há obrigação que inculque,
nem frescuras que não possam ser realizadas.

Pois numa fábrica de modelos
cujo produto vendido somos nós mesmos,
onde vemos pernas penduradas,
braços, abdomens, mãos e pés
secando sua tinta num varal,
cabeças decaptadas,
bundas, peitos e seios
sendo montados um a um,
o que resta disso tudo 
é claro que só pode ser o supérfluo,
o vazio, o desapego e o banal.

A cocaína dos homens hoje,
além do próprio pó,
está no corpo do outro homem
e é percebida num olhar,
num riso, numa paquera peculiar,
num torcer de pescoço,
num nick de sala de bate-papo
e seu prazer é o nosso próprio nó.
Nos resta compreender se isto leva a algum lugar.

Juliano Hollivier - Sao Paulo











Monday, November 08, 2010

Tesouras Arradas


Tem coisas que realmente não podemos fazer nada,
Não que realmente nada há o que fazer com essas coisas,
mas é que parecem ser de uma providência Divina
para pôr nós homens em nossos devidos lugares

Coisas como paixões atribuladas,
como insucessos rasgados,
como o fascínio pelo belo que não pode ser seu,
coisas como tesouras amarradas.

No sobe e desce dessa vida
cruzo mais uma vez com o homem
o ser humano mais humano
que pode vestir minha felicidade completa.

Ele tem estilo, tem beleza,
ele tem amor, ele tem valor,
nele há brilho, nele há sucesso, força repleta.
Dele sai encanto e a ele Deus presenteou seu manto
tecido à mão por anjos estilistas como ele.

Passou comigo algumas poucas noites e alguns poucos dias
costurando a trama de um sonho prestes a se realizar,
bordando os beijos, cerzindo os flertes,
recortando as vontades e modelando sua bondade
num molde de felicidade que desestruturou meus anseios.
Pois estava eu num momento "fechado pra balanço".
Rindo e desfrutando daquele devaneio
me pego apaixonado e compartilho meu estado.

Então depois da verdade positiva desvelada,
na sinceridade da paixão que poderia sim evoluir
no amor pré-estabelecido como que numa outra vida,
nos encontros de coisas parecidas entre dois sagitários,
devo ter despertado seus horrores e seus medos,
seus ex-amores e derrotas,
conflitos ainda não resolvidos
ou desenhos ainda não desenhados.

Pois a um passo da entrega de si,
da consumação de um fato,
da prova final de um vestido premiado,
ele fechou os buracos, puxou os zíperes,
costurou as entradas, apertou as amarras,
abotoou os botões e tampou as casas por onde eu pudesse entrar.

Não era ilusão a correspondência que senti,
vi em seus olhos, peguei em sua mão que tremia quando me abraçava
e percebi seu tom quando me disse que o resgatava
da descrença no amor.

Eu dizia ele fazia,
eu me expressava com palavras ele se expressava com ações.
Eu pensava, ele agia.
Numa noite juntos dormida
descobriu-se a coincidência até das pernas descobertas.

Não, definitivamente não estou ficando louco, ainda.
Então o que foi tudo aquilo?
Tudo isso o que é?
Por que é que o medo tem de prevalecer?
Por que é que as fases também não podem se coincidir?

Sinto como se tivesse experimentado o melhor casaco,
o mais caro terno, a mais bela gravata e
sem mais nem menos acordasse novamente nú
na escola de um sonho de criança.

Quero apenas uma chance de provar
o quanto posso, o quanto quero, o quanto creio,
compartilhar a conquista de uma felicidade alinhavada juntos,
de um sucesso sobreposto pela coragem,
não só pelo tesão de seu corpo
mas primordialmente pelo tesão de sua alma.

Quero apenas uma chance para conquistar seu olhar
que é todo azul do mar...
e fazer se apaixonar por alguém que já se apaixonou,
alguém que já sabe amar.
Peço que desamarre as tesouras para que então
possamos tecer juntos a roupa da vitória.

Juliano Hollivier - Sao Paulo