Wednesday, August 11, 2010

Reconhecer-se

Picture by Elaine Ianicelli

Olhar para o outro e ver somente ao outro
Olhar para si mesmo e ver apenas a si próprio
É o começo de uma guerra, de um colapso, de um absurdo qualquer.
Não doar seu sangue, sua voz, seu ouvido
Não dar sua alma, sua vida, sua vontade
pelo outro, para o outro, com o outro.
É sem dúvida o alimento para o egoísmo, para a insanidade, para o caos.
Agora quem é que quer se doar, se dar e compartilhar
num mundo onde todos se comem, se fodem e se pisam?,
onde uns renegam a merda que comem, o buraco onde evacuam
seus podres, suas mentiras, seus medos e imperfeições
e no instante em que podem jogam tudo para o alto
se vangloriando do passo dado sem reconhecimento algum.
Aprende-se ser um indivíduo indizivelmente individualista
no dia-a-dia, no corre-corre, no pega-pa-capá da inocência,
nas empresas e escolas que passamos.
Se esquece que em muitos momentos o outro é
necessário, insubstituível, particularmente desejável.
Observar-se e ser observado.
Início de uma trégua, de uma paz interna.
Dar seu peito, seu ombro, sua gana
é se permitir ver e enxergar o outro.
Me vejo no praticável em pé
ou nos metatarsos apoiado,
olho depois no canson riscado a carvão, pastel ou a lápiz de cor.
Me reconheço de outra forma, de um outro jeito,
através do olho do artista me vejo outro,
me vejo novo, me vejo louco, me vejo sempre.
Vejo o que todos vêem e o que poucos entendem
Vejo o que não gostaria ver em mim
mas que por ser parte de todos alí está para ser visto,
não dependendo da minha vontade.
No desenho ou no bronze fundido
reconheço meus sentimentos, meus prazeres,
descubro novos sonhos, novas curvas, novos ângulos de mim mesmo.
Às vezes a princípio nao vejo nada de mim neles,
poucos os casos, mas existem, e servem para o pensamento
como se questionassem minha pose, minha capacidade de expressar-me
E num relance nestes mesmos casos, me vejo criança
me vejo projeto de gente, me vejo embrião de um homem cheio
de coisas pra fazer, querer, conquistar, descobrir, crescer.
Trabalhos feitos com a expressão do meu corpo
são sempre conjunto de resultados mútos entre modelo e artista
são sempre fruto de auto-reconhecimento
de todos que se doam, partilham e oferecem 
sua alma para o outro, seus olhos para o outro,
E com o outro, vive para o destrinchar da
individualidade, do egoísmo, do individualismo 
naturais sim do ser humano, mas também necessários de evolução,
de reconhecimento e aprimoramento.
Olhar para o outro e ver também a si mesmo.
Olhar para si próprio e se ver outro,
se ver diferente, melhor, inerente.
Modelo de uma transfiguração,
desenhista, escultor, artista e eu
somos um só e seu trabalho espelho
que reflete a todos nós num reconhecer-se!.

Juliano Hollivier - São Paulo

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