Thursday, September 02, 2010

Música Para Loucos

Picture by Myself

Não sei do quê sinto saudade
mas a sinto forte
não sei se é algo ou alguém
mas ela está aqui
não do meu lado ou à minha frente
mas dentro de mim
como se quisesse me ocupar
me tomar, me substituir ou me refazer
outro, outra, noutro ou noutra
vida, homem, situação, pessoa, dúvida.
Ouço No Bravery, James Blunt
talvez isto me incite à melancolia
ou talvez isto me transporte
à algo a que sou dado:
questionamentos intermináveis sobre o por quê das coisas,
introspecções arriscadas ao coração, ao amor, ao fim das viagens
a um incômodo despertado pelo som de uma música,
a um masoquismo moral, intelectual, sentimental,
à masturbação mental que me acomete
sempre que me pego só.
A sensação é a mesma que tive
quando estava no Cairo, nas pirâmides, e me vi sozinho,
derrotado e com saudades de casa.
Não sei por quê mas a sinto forte
não sei como nem onde
ela se fez, ou se a fizeram para mim
mas parece coisa de outra vida
de outro plano ou providência.
Não se explica, não se prova
mas esta porra está aqui
dentro de mim
me ocupando, tomando meu corpo
me substituindo, desfigurando, causando
uma torrente de água que cai dos olhos.
Sim, por que simplesmente dizer que me faz chorar
seria pouco, seria falso e superficial.
Ouço, ciclicamente, os melismas da viola.
Vão abrindo portas dentro de mim que não consigo parar.
Parece um vento, um arrebatamento ou afastamento de mim mesmo,
Parece uma droga que leva a um grau de alucinação tão grande
que poderia passar toda a madrugada aqui assim,
deitado, olhando a noite pela sacada
e ouvindo essa viola, essa voz, essa oração pra dor de não sei o quê.
A maluquisse é tanta que quando olho pra TV
vendo esses olhos profundamente azuis do cantor,
é um show em DVD,
vendo o quanto ele se entrega ao que faz
que sinto que faria qualquer coisa 
pela sua companhia numa só noite cantando para mim.
Tem um passarinho doido lá fora,
também cantando enlouquecido,
meu contato com a realidade.
Coincidência?
Carência santificada é essa, meu Deus,
onde está a resposta disso tudo?
mas assim como na música
não vejo nenhuma bravura
diante de tanta volta ao ponto de partida
diante de tanta violência comigo mesmo.
"I see no bravery, no bravery in your eyes anymore,
Only sadness".

Juliano Hollivier - São Paulo