Monday, February 17, 2014

METAMORPHOSIS

Mudar o quê? Mudar pra quê?
A inocência  que encanta, desabrocha o riso,
ilumina novos rumos a tomar, inspira novas trocas fazer.
Inesperado momento reflete renascimentos de vontades,
desejos, sonhos e possibilidades.
Como numa revoada quando as folhas bebem o céu e as flores beijam o sol,
papéis mostram ao vento bilhetes rascunhados, mensagens não ditas,
cartas apaixonadas, rimas da boca e dos pés que o vento leva,
elisões de amor em voga que o vento toma,
suposições descritas em versos pintados com cheiros, com beijos sonhados,
desejados, esboçados e refeitos em centenas de papéis que o céu toma como dele,
e o vento carrega ao léu.
Um olhar correspondido é o que sopra este vento,
que acende o brilho na sombra desenhada,
lambe aromas marcados no corpo branco, quase dourado,
liso e sereno, sedento e perfeito.
Esculpe formas e volumes novos , traços trêmulos e lábios rosados.
Renova o fogo calmo no peito cansado e renovam, olhar e brilho, os caminhos trilhados neste corpo jovem de alma bela.
Mudanças geram força, modificam formas,
Renascem almas, cores e amores novos, crianças, puros e delicados.
Neste voo de papéis e folhas, flores e aromas, pássaros se debandeiam, insetos se rogozijam ,
E todo bicho que voa se emudece e ganha o céu.
E no chão restam pés e mãos que desejam, e só desejam ganhar o céu da tua essência.
Restam olhos que se entrevêem, peles que se querem.
Lábios que se engolem, mesmo que imóveis.
Corações que se entregam num mergulho sem volta.
Neste chão ficam os sorrisos espontâneos , piscadas involuntárias e fôlegos não controlados.
Ficam resmas de curiosidade, de afago e descobertas.
Ficam tons de volúpias entrecortadas num simples reconhecimento de desejo mútuo.
Ficam roupas largadas, nele jogados, canson e pincéis que testemunham o voo do corpo no outro,
Assistem aos beijos selados e devotos, pele a pele, tato a tato,
Olham caminhares de dedos que percorrem os tons acetinados
Rasgando-os de um vermelho delator,
Abençoando os fluídos e sentimentos trocados, renascidos.
E no céu restam sol, pássaros, flores e papel.
Mudar para se propiciar vivo e humano, amado e repleto.
Mudar para que no outro se encontre novo e se refaça pleno.
Mudar o ponto de vista, a calçada traçada,
As formas acostumadas e usadas, e os padrões aprendidos.
Mudar o corpo e a alma de lugar, e assim metamorfosear-se por aí.
Transformando-se dentro do outro e nunca mais sentir-se só!

Juliano Hollivier – 12 de Fevereiro de 2014

Foto: Eva Bella 

Sunday, February 02, 2014

DESÍGNIO

(link para música Still, de Bombay Bicycle Club, acompanhar a leitura http://www.4shared.com/mp3/M4-jKg8Y/12_Still.htm)

Desenho com os olhos o seu corpo,
Linha a linha, massa a massa,
Se inebriam ao meu desejo de refazê-lo outro, noutro.
Desenho com os olhos os seus pés,
Veia a veia, dedos e caminhos que percorrem
Juntos à minha emoção.
Eles são meus e neles devoto os passos mais secretos,
Que a você compartilho.
Desenho com os olhos os segundos vividos em sua coxa,
Conjunta em um colo desmesurado,
Marcada pelo tônus da força carregada há tempos.
É com os olhos que desenho teu sexo,
Por que são frios à medida do desejo que o contorna,
Contrabalanceando luz, sombra, calor e alma.
Equilibrando força, amor e calma.
Desenho com os olhos os momentos que invento nesta viagem,
Nos minutos traçados a cada massa que vejo, a cada idílio alcançado.
E com eles componho minha própria figura,
Repleta de mim mesmo em você, de você em nós dois.
Desenho com os olhos as linhas que sobem a virilha,
Contornando em “s” a forma mais perfeita do seu corpo.
em segredos, sensações e sentimentos.
É com os olhos que desenho as massas de seu âmago,
Riscados na persistência que misturam-se às minhas.
Eles acompanham os degraus desta composição,
Guiando meus dedos imóveis e rijos,
Enfraquecidos pelo gelo em vê-lo nu,
Este seu corpo, poderosamente perturbador.
É com meus olhos que construo minha desconexão,
E são eles que me levam ao delírio da Divindade por fazê-lo tão puro,
Seu corpo, tão pleno, tão verdadeiramente meu.
Com os olhos desenho seu peito, farto de sofrimento,
Porém tão necessitado de meus devaneios.
Eles, os olhos, riscam seu colo num afago de liberdade,
Como se delineassem os dias que seguirão adiante.
Se calam eles quando atentam sua boca,
Muda e serena de gritos guardados, de sussurros embuídos,
Percorrem lábios consternados e famintos de beijos rasgados.
É com os olhos que desenho os seus olhos, minuto a minuto,
Observando-os fitar-me tão despretensiosamente, tão provocantemente imóveis.
E é neles que perco-me todo, sem resquício de volta.
Apenas restando-me o papel e o carvão.
Em seus olhos vejo meus medos, por isso me perco,
Vejo meus sonhos e erros, por isso me perco,
Vejo meus esboços não terminados, abandonados,
É por isso que me perco.
Vejo minhas mãos trêmulas por deseja-lo tão perfeito,
Porém vejo transformar-me em seus olhos, que me olham
Tão atentamente mudos, tão questionadores e resolutos.
Vejo-me melhor em seu olhar.
Ah, o seu olhar, é nele que me encontro novamente.
Que recobro minhas buscas,
Que recrio meus amores.
Em seu olhar que refaço minha coragem, meus acertos,
Resgato e concluo rascunhos inacabados,
Compreendo que de perfeito só nossos credos são feitos,
E é com meus olhos que te olho
Para desenhá-los seus, sem acrescer de nada que não seja teu.
E é com eles que assino minha obra, meu desígnio.
E quando revejo traço a traço, me vejo transformado pelo complexo ato de te olhar!

Juliano Hollivier – 03 de Fevereiro de 2014
(dedicado aos artistas que compartilham seu crescimento com minha arte)


(Foto: Maria Pacca)

Assista ao vídeo:

TIME´S OVER

O poder do tempo sobre tudo o que vivemos, sobre tudo o que fazemos.
A ação que ele exerce em cada face de harmonia ou desarmonia é primordial para se chegar à compreensão do todo.
O TEMPO.
Ele tem o poder!
Ele manda, dita regras e reedita fases.
Organiza todas as desordens causadas por nós. Ensina todas as lições que não somos capazes de aprender. O tempo nos comanda, nos escraviza, nos abduz.
Tem a face da morte como justificativa para quaisquer descrenças e desavisos.
Ele induz, corrobora, permeia, delineia e preenche.
Esgota conquistas nos “emputecendo” no egoísmo até que suaviza as perdas e desfacelamentos.
O TEMPO.
Você já ouviu dizer que “o que não está em nossas mãos estão nas mãos dele?”
Existe constatação mais absurda como esta para nós, seres humanos sedentos de controle, domínio e superação?
Como admitirmos algo que não podemos deliberar ou conduzir ao nosso sentido?
Sim. Ele existe. Não se toca, não se sente como a um tapa na cara, definitivamente não se controla.
Nos iludimos nos tempos dos outros, nos tempos de cada um.
Nos confundimos com nossos próprios tempos.
Nos enganamos a nós mesmos com o tempo que temos e de tempos em tempos retornamos a nos contemplar chorando, gritando ou rindo de nossas durações!


Como competir com algo que sequer vemos? Inteligente é seguí-lo.
Viver seguindo-o em paralelo.
Posso dizer que o meu tempo é um e o seu outro mas nunca esquecendo que essa abstração só nos cabe em nós. O meu tempo é orgânico, variado, curto às vezes e longo na maioria delas. Deixa-me mostrar-te o meu tempo:

O meu tempo é outro, contido porém repleto de elisões.
Ele se arrasta nas separações dos entroncamentos.
Ele se estende pelas guias de ruas percorridas tão desordenadamente.
Meu tempo é único a cada segundo que se repete ininterruptamente nos arredores das brechas.
Ah meu tempo é desfoque, conciso, quase disléxico.
Me apoio nele muitas vezes para compor as celeumas da vida.

Hoje não há contagem de nada,
não há milésimos, não há frações, não há desejos desmesurados.
Hoje não há timer, relógios, regras, desentendimentos, hoje não há obras inacabadas.
Só reagrupamentos, complementos, diáfises e epífises.
Hoje eu posso entrar no tempo do outro, no corpo do outro,
pra me sentir longo e desmedido.
Hoje não há o que tenha havido ontem e que não haverá amanhã,
só que com a singeleza de uma desobsessão. 

Hoje só haverá nossos corpos, entrelaçados aos seus,
se continuando e se estendendo em suas anamneses criativas.
Hoje reinarão nossas linhas juntas às suas e não saberão onde começa uma e termina outra.
Hoje o tempo somos nós próprios, consternados ou famigerados em vós!
Hoje não haverá nunca mais, sendo que nunca poderá ser tão logo quanto eternamente.
Eternamente ontem, antes de ontem, agora pouco.
Agora pouco. Eternamente antes de ante-ontem.
Logo mais.
Quando?
Já, já já!
Nunca?
Sim, agora!
Eternamente agora!
Eternamente logo mais. Eternamente já já!
Sempre hoje. E amanhã?
Amanhã?
Amanhã, eternamente amanhã, e depois e depois de amanhã.
Assim o nunca mais parece nunca existir,
porém se aproxima mais, e mais, e mais...

E os sonhos são dispostos num tempo qualquer,
sem definições de início e fim ou obrigações de respostas.
Se acabam os sonhos com o tempo?
Realizações dependem de alimento substancial?
Se se modificam ao longo da busca qual a razão de serem?

Falo do sonho almejado, impulsionado pela ação de sonhar.
De situação vivida em fantasia enquanto se dorme, ele se transforma em objeto de desejo.
Fator moderador destes sonhos é o tempo,
porém agora já sincronizado a nós, aprendido em nossa perseverança,
já que hoje reinam nossas linhas juntas às suas,
sem saberem sempre onde começa uma e termina outra;
pois hoje o tempo é nosso e cheio de fama.
Hoje não há nunca mais e nunca mais é logo e eterno.

Eternamente logo mais. Eternamente já já!
Sempre hoje.
E amanhã?
Amanhã? Ahh amanhã!
Eternamente amanhã, e depois e depois de amanhã.
Assim o nunca mais jamais existirá se aproximando sempre mais
...e mais....e mais....e mais....ee maaaiiiiisss!

Juliano Hollivier - Texto da performance TIMES´S OVER - Dezembro de 2012.

Assista ao vídeo da performance pelo link http://www.youtube.com/watch?v=4E5J6AeVAAQ