Picture by Elaine Ianicelli
Povo sofrido, com cheiro, odor.Arábia bendita em seus antepassados
onde mulheres são cães maltratados
ou bonecas enfeitadas com ouro
exclusivas e escondidas no horror.
Progresso inverso, cultura enraizada
no acerto ou no erro
onde um tem tudo e muitos têm nada
na pele escorre o suor e a cor do desespero.
A luz de um sol muito forte
arrebata a testa, os ante-braços, as mãos.
Judia as rugas de olhos que só vêem
e desejam não desejar a sorte e a morte.
Nossa liberdade vai de encontro
aos coros de um Alcorão interpretado
por homens crentes em Deus,
em renúncias e retribuições divinas.
O que faço aqui seria motivo
de morte por apedrejamento talvez,
por isso rezo todos os dias por ter nascido livre,
solto para poder escolher quem ser.
Porém vi no Oriente um médio olhar
de uma esposa toda encoberta
que andava logo atrás de seu amo
acorrentada por ouro branco.
Quando passou senti vontade de despí-la toda,
arrancar aquela burca a tapas,
enfocar o senhor que a puxava
dono de um orgulho e prepotência tosca.
Seu corpo com certeza brilhava
debaixo daquele tecido negro
ainda se podia ver em seus passos
o Prada nos sapatos
os brilhantes nos dedos
porém somente seu dono a desfrutava.
Diante de tanta diferença
me ocorreu a primeira vontade em me despir,
mostrar ao homem como viemos e como voltamos
o quanto somos belos sem nada,
frágeis e fortes nesta crença.
Em minha cabeça, naquele instante,
só me restaram o corpo, a arte,
a raiva, a luz que brilhava abundante,
o negro e o vermelho da carne.
Juliano Hollivier - São Paulo