Tuesday, December 22, 2009

Fade out

Às vezes quero apenas apagar a luz
ver a nudez do silêncio, ouvir os aplausos abafados
sentir que tudo passou
e que tudo não passou de uma breve cena.

Às vezes, poucas vezes, gostaria de um tempo,
de um vento no vácuo, no ócio, no gelo
como se fechasse os olhos e os sentimentos cessassem
transportando-os para cima da vida, para além palco.

Cada vez mais esta peça se complica,
se dificulta, se edifica deixando-me em dúvida
se vou conseguir seguir até o fim,
se vou ser digno do papel a mim Proposto.

E só muito poucas vezes eu quero desistir,
quero saltar pro esmo sem pensar,
quero não ter que virar o rosto e ver que sofri,
só que não consigo por que sou dado a sofrimentos
e acho que isto me deixa esperançoso, crente na felicidade.

Sempre que olho para trás vejo
tantas cenas já apresentadas e vividas
mas é que às vezes, juro, somente às vezes
sinto uma irremediável fraqueza e desesperadamente
o que quero é turn off the lights!

Não sei se os conflitos param,
não sei se as dúvidas se acalmam
ou se as vontades mundanas da alma se aquietam.
Não sei se as dores são tratadas,
se os amores se apagam, não sei.

Só sei que sou homem nú, impotente e cansado
e que muito poucas vezes necessito do black out.
Mesmo que seja escuro esse tempo
talvez seja necessário para que se faça a luz.

Às vezes os por quês dirigem as cenas
pra lugares que não queremos, não gostamos
e assim são feitos finais infelizes, de pouca aceitação.
Portanto, me seja dada a liberdade de sair de cena
sem explicações ou entendimentos alheios
para que, se necessário for, retorne
em outro corpo, em outra mente, em outro palco.

E neste momento vejo daqui, de cima do procênio
que o interruptor principal fica depois das portas
do outro lado da platéia, do lado de lá da vida e da arte.
E muitas vezes as vejo sendo abertas cegando a todos
com a visão da realidade, com a claridade lá de fora.

Mas em alguns momentos me vejo saindo por elas
antes que espetáculo acabe por completo, segundos antes
dos aplausos, atravessando tranquila e lentamente
sem que percebam a ausência de minha personagem,
e assim vou seguindo sozinho num fade out.
E o que fica é uma música ao fundo.

Juliano Hollivier - São Paulo

Sunday, December 20, 2009

Retroinspecção

Hoje é o espelho.
A visão retrogradada de um "Eu" marcado,
de uma vida perfeita e pronta aos olhos alheios,
mas de uma insatisfação sem explicação,
sem entendimentos e muitos anseios.

No canto da moldura
um artista, sem auto-valorizações pelo amor de Deus.
Que se alimenta das dores, dos amores,
que sente muito, que chora, que vive,
tudo intensamente, tudo plenamente.

Reflexo de amigos que cruzam,
interferem, adicionam, engrandecem;
de namoros que perfuram,
ferem, subtraem, diminuem
seu ego, seu crédito,
seu amor próprio.

Irreflectido ato de angústia
por rever a saudade dos momentos
felizes e infelizes, projetados ou não
numa mente e coração de alguém que
nasceu e cresceu num amor latente.

À direita deste espelho
o amanhã e um respiro fundo.
E a dificuldade em crer que tudo
se resolve da forma escolhida por Ele,
instiga o caminho rumo à felicidade.

Juliano Hollivier - São Paulo