Monday, October 26, 2009

Playground

Uma gota d´água, outra gota e mais outra,
sim, a chuva que cai trazendo uma realidade à tona
uma existência efetiva, líquida e fria, como a água que escorre
pelas ruas, pelas casas, por nós todos que andamos por aí
vivendo e morrendo todos os dias,
em todas as noites e em todos os solavancos que surgem.

Não somos e talvez nunca seremos completamente felizes
e essa realidade molha, escorre, incomoda,
esfria às vezes o corpo, faz tremer os lábios, o peito,
faz querermos apenas um colo, um ombro, um beijo.

E à medida que ela desliza pelos braços
e marca o caminho húmido pelas costas e todo o corpo,
a gente vai se dando conta que o tempo está passando
e ainda não chegamos lá, ainda não ganhamos o porto.
Fazendo da poça um oceano de interrogações e por quês.

Será mesmo eterna essa busca?
Se as gotas mandadas se desfazem e secam no outro dia,
se os lagos se enchem, se os rios aumentam de volume
despencando no mar ondas perfeitas, plenas e completas.

Nós homens precisamos mesmo esvair-nos assim?
Escoar como enxurradas, dissipando os sentimentos,
os sonhos, os objetivos ainda não atingidos?
Como se metêssemos os pés secos num buraco cheio d´água?

Será mesmo preciso enxugar o corpo, as lágrimas,
as vontades, os amores não correspondidos,
secar os desejos, as marcas todas que tatuam como enchentes,
que destroem como vento, como tempo, como lástimas?

Deslizando então assim a precipitação cessa n´alma.
Como coisa que não é para compreendermos,
como algo gotejante que segue alimentando nossas dúvidas
afim de nos manter como completos parques de diversão em dias de chuva!


Juliano Hollivier - São Paulo