Saturday, July 11, 2009

Vício

Ele desde o começo disse: " - Vamos viajar juntos até o outro lado. Até você acreditar em mim!". E assim Ela ia aos poucos cedendo àquela sensação estranha, que tomava aos poucos conta da situação. Eu, o que Eu podia fazer? Vendo tudo de dentro, sem poder controlar. Sem conseguir situar, sem querer agir.
Um dia Ela lendo a mensagem que chegava depois de um fim de semana intenso, a dúvida que antes pairava no ar cedeu espaço para o salto de cabeça: " - Quero me envolver em você e assim ficar, permeando seus limites, seu carinho!". Claro que isso foi o que Ela materializou das simples palavras digitalizadas no LCD do celular. Claro que Ele estava sendo sincero também, mas existe a diferença do que se diz para o que se compreende.
Outro momento e Ele lança outra certeira naquele coraçãozinho carente: " - Só liguei para dizer que o sintoma é de Saudades". Ela já cansada de lutar contra, suas mãos já perdidas nos cachos de seu cabelo. Seu olfato completamente viciado no cheiro de sua pele, no aroma de prazer sem volta. Sua boca mataria pelo próximo beijo ou por um simples encostar nos lábios que haviam-na enfeitiçado. Almejava desesperadamente mais uma noite, e mais outra noite, e tantas mais em que pudesse se fazer amada. Ele trouxe o doce na boca daquela criança, lambusou seu ego, disse que casaria, que amaria, disse que "viajariam juntos até o outro lado". E Eu? O que podia Eu fazer? Dentro e vendo tudo, sem poder controlar. Sem conseguir situar, sem querer agir.
Foi quando o sumisso daquele Anjo pôs fim à fantasia daquela Alma. E quando Eu se tocou realmente que não tinha mais controle sobre si, que estava novamente perdido. Agora era Eu, não mais aos poucos, que apresentava os sintomas de Tristeza, de Falência, de Loucura.
Eu, agora não mais Alma, agia desesperadamente correndo contra a realidade do abandono, ou do sonho tão querido materializado. O senso do certo e errado não existia mais, absorto na ferida da lembrança. Eu vai se aproximando rapidamente do limite do outro lado: da insanidade. " - Deus, POR QUÊ? Por que brincam comigo assim? POR QUÊ, Me diz?". Desespero, noites insones, lágrimas e saudade, vão aos poucos trazendo aquela Alma de volta de sua viagem, vinda do lado de lá acreditando ainda menos, não acreditando sequer em si mesma. Ele, o anjo, some mesmo. Ela, Alma, talvez se recupere lentamente aos poucos. E Eu? O que poderá Eu fazer senão dormir, com esperança de um sonho novo? um sonho bom? de um dia novo? e, quem sabe, de um Anjo real?

Juliano Hollivier - São Paulo

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