Monday, January 24, 2005

Tudo começa quando o ar parece faltar nos pulmões,
você inspira até não ter forças pra descolar o peito das costas
e ainda assim não é suficiente para arejar a mente,
que se assemelha a um caleidoscópio pelas imagens e dúvidas que surgem.

O gás se expira pela boca e os olhos se voltam para dentro
afim de tentar enxergar o motivo daquela auto-compaixão toda.
E o que se vê é um medo terrível, um medo inexplicável,
que tinge de negro tudo o que tem luz e o que tem vida.

Mais uma vez o ar parece não querer passar pelo caminho
que o leva ao desconhecido, ao poço de por quês.
E então liga-se uma música, não para suprir uma falta ou distrair o caos,
mas sim para aumentar a dor, para musicar a pena de si mesmo.

Caminha-se até a janela e tudo é sincronizado, como numa marcha.
Observa-se pessoas à janelas voltadas para si, a observarem sua solidão.
E quando então explode de dentro um choro que tem em si uma água estranha,
um espelho d´água que mostra o quanto dá medo estar só.

O que é o medo da solidão? É não poder dividir o ar que às vezes falta?
É não ter por quem esperar de noite ou se preocupar na ausência?
Talvez seja o próprio desespero batendo à sua porta, sem pedir pra entrar.
Talvez seja a lembrança da falta que faz alguém pra te amar.

A música incidental dá movimento às cenas,
suspende no ar rarefeito todas as suas incapacidades, todos os seus pontos fracos;
Parece que as janelas lá fora engolem sua sede de companhia
e usa sua incapacidade de ficar sozinho como luzes que se espalham pela cidade afora.

E o medo cede lugar apenas ao conformismo que tenta insistentemente tomar conta,
Mas como o coração não é palco rígido, então amolece e adormece.
O choro se transforma em papéis intermináveis umidecidos de corisa
e a cena quase brega digna de risos frios se acaba com um sono mal dormido.

É o confronto entre razão e emoção, onde o medo da solidão é tão abstrato quanto a merda que deixamos todos os dias num vaso sanitário qualquer!

Juliano Hollivier

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