Sunday, February 02, 2014

TIME´S OVER

O poder do tempo sobre tudo o que vivemos, sobre tudo o que fazemos.
A ação que ele exerce em cada face de harmonia ou desarmonia é primordial para se chegar à compreensão do todo.
O TEMPO.
Ele tem o poder!
Ele manda, dita regras e reedita fases.
Organiza todas as desordens causadas por nós. Ensina todas as lições que não somos capazes de aprender. O tempo nos comanda, nos escraviza, nos abduz.
Tem a face da morte como justificativa para quaisquer descrenças e desavisos.
Ele induz, corrobora, permeia, delineia e preenche.
Esgota conquistas nos “emputecendo” no egoísmo até que suaviza as perdas e desfacelamentos.
O TEMPO.
Você já ouviu dizer que “o que não está em nossas mãos estão nas mãos dele?”
Existe constatação mais absurda como esta para nós, seres humanos sedentos de controle, domínio e superação?
Como admitirmos algo que não podemos deliberar ou conduzir ao nosso sentido?
Sim. Ele existe. Não se toca, não se sente como a um tapa na cara, definitivamente não se controla.
Nos iludimos nos tempos dos outros, nos tempos de cada um.
Nos confundimos com nossos próprios tempos.
Nos enganamos a nós mesmos com o tempo que temos e de tempos em tempos retornamos a nos contemplar chorando, gritando ou rindo de nossas durações!


Como competir com algo que sequer vemos? Inteligente é seguí-lo.
Viver seguindo-o em paralelo.
Posso dizer que o meu tempo é um e o seu outro mas nunca esquecendo que essa abstração só nos cabe em nós. O meu tempo é orgânico, variado, curto às vezes e longo na maioria delas. Deixa-me mostrar-te o meu tempo:

O meu tempo é outro, contido porém repleto de elisões.
Ele se arrasta nas separações dos entroncamentos.
Ele se estende pelas guias de ruas percorridas tão desordenadamente.
Meu tempo é único a cada segundo que se repete ininterruptamente nos arredores das brechas.
Ah meu tempo é desfoque, conciso, quase disléxico.
Me apoio nele muitas vezes para compor as celeumas da vida.

Hoje não há contagem de nada,
não há milésimos, não há frações, não há desejos desmesurados.
Hoje não há timer, relógios, regras, desentendimentos, hoje não há obras inacabadas.
Só reagrupamentos, complementos, diáfises e epífises.
Hoje eu posso entrar no tempo do outro, no corpo do outro,
pra me sentir longo e desmedido.
Hoje não há o que tenha havido ontem e que não haverá amanhã,
só que com a singeleza de uma desobsessão. 

Hoje só haverá nossos corpos, entrelaçados aos seus,
se continuando e se estendendo em suas anamneses criativas.
Hoje reinarão nossas linhas juntas às suas e não saberão onde começa uma e termina outra.
Hoje o tempo somos nós próprios, consternados ou famigerados em vós!
Hoje não haverá nunca mais, sendo que nunca poderá ser tão logo quanto eternamente.
Eternamente ontem, antes de ontem, agora pouco.
Agora pouco. Eternamente antes de ante-ontem.
Logo mais.
Quando?
Já, já já!
Nunca?
Sim, agora!
Eternamente agora!
Eternamente logo mais. Eternamente já já!
Sempre hoje. E amanhã?
Amanhã?
Amanhã, eternamente amanhã, e depois e depois de amanhã.
Assim o nunca mais parece nunca existir,
porém se aproxima mais, e mais, e mais...

E os sonhos são dispostos num tempo qualquer,
sem definições de início e fim ou obrigações de respostas.
Se acabam os sonhos com o tempo?
Realizações dependem de alimento substancial?
Se se modificam ao longo da busca qual a razão de serem?

Falo do sonho almejado, impulsionado pela ação de sonhar.
De situação vivida em fantasia enquanto se dorme, ele se transforma em objeto de desejo.
Fator moderador destes sonhos é o tempo,
porém agora já sincronizado a nós, aprendido em nossa perseverança,
já que hoje reinam nossas linhas juntas às suas,
sem saberem sempre onde começa uma e termina outra;
pois hoje o tempo é nosso e cheio de fama.
Hoje não há nunca mais e nunca mais é logo e eterno.

Eternamente logo mais. Eternamente já já!
Sempre hoje.
E amanhã?
Amanhã? Ahh amanhã!
Eternamente amanhã, e depois e depois de amanhã.
Assim o nunca mais jamais existirá se aproximando sempre mais
...e mais....e mais....e mais....ee maaaiiiiisss!

Juliano Hollivier - Texto da performance TIMES´S OVER - Dezembro de 2012.

Assista ao vídeo da performance pelo link http://www.youtube.com/watch?v=4E5J6AeVAAQ




No comments: