Sunday, February 02, 2014

DESÍGNIO

(link para música Still, de Bombay Bicycle Club, acompanhar a leitura http://www.4shared.com/mp3/M4-jKg8Y/12_Still.htm)

Desenho com os olhos o seu corpo,
Linha a linha, massa a massa,
Se inebriam ao meu desejo de refazê-lo outro, noutro.
Desenho com os olhos os seus pés,
Veia a veia, dedos e caminhos que percorrem
Juntos à minha emoção.
Eles são meus e neles devoto os passos mais secretos,
Que a você compartilho.
Desenho com os olhos os segundos vividos em sua coxa,
Conjunta em um colo desmesurado,
Marcada pelo tônus da força carregada há tempos.
É com os olhos que desenho teu sexo,
Por que são frios à medida do desejo que o contorna,
Contrabalanceando luz, sombra, calor e alma.
Equilibrando força, amor e calma.
Desenho com os olhos os momentos que invento nesta viagem,
Nos minutos traçados a cada massa que vejo, a cada idílio alcançado.
E com eles componho minha própria figura,
Repleta de mim mesmo em você, de você em nós dois.
Desenho com os olhos as linhas que sobem a virilha,
Contornando em “s” a forma mais perfeita do seu corpo.
em segredos, sensações e sentimentos.
É com os olhos que desenho as massas de seu âmago,
Riscados na persistência que misturam-se às minhas.
Eles acompanham os degraus desta composição,
Guiando meus dedos imóveis e rijos,
Enfraquecidos pelo gelo em vê-lo nu,
Este seu corpo, poderosamente perturbador.
É com meus olhos que construo minha desconexão,
E são eles que me levam ao delírio da Divindade por fazê-lo tão puro,
Seu corpo, tão pleno, tão verdadeiramente meu.
Com os olhos desenho seu peito, farto de sofrimento,
Porém tão necessitado de meus devaneios.
Eles, os olhos, riscam seu colo num afago de liberdade,
Como se delineassem os dias que seguirão adiante.
Se calam eles quando atentam sua boca,
Muda e serena de gritos guardados, de sussurros embuídos,
Percorrem lábios consternados e famintos de beijos rasgados.
É com os olhos que desenho os seus olhos, minuto a minuto,
Observando-os fitar-me tão despretensiosamente, tão provocantemente imóveis.
E é neles que perco-me todo, sem resquício de volta.
Apenas restando-me o papel e o carvão.
Em seus olhos vejo meus medos, por isso me perco,
Vejo meus sonhos e erros, por isso me perco,
Vejo meus esboços não terminados, abandonados,
É por isso que me perco.
Vejo minhas mãos trêmulas por deseja-lo tão perfeito,
Porém vejo transformar-me em seus olhos, que me olham
Tão atentamente mudos, tão questionadores e resolutos.
Vejo-me melhor em seu olhar.
Ah, o seu olhar, é nele que me encontro novamente.
Que recobro minhas buscas,
Que recrio meus amores.
Em seu olhar que refaço minha coragem, meus acertos,
Resgato e concluo rascunhos inacabados,
Compreendo que de perfeito só nossos credos são feitos,
E é com meus olhos que te olho
Para desenhá-los seus, sem acrescer de nada que não seja teu.
E é com eles que assino minha obra, meu desígnio.
E quando revejo traço a traço, me vejo transformado pelo complexo ato de te olhar!

Juliano Hollivier – 03 de Fevereiro de 2014
(dedicado aos artistas que compartilham seu crescimento com minha arte)


(Foto: Maria Pacca)

Assista ao vídeo:

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